histórias prováveis...
simulei-me pedinte
não andrajoso.
fui de porta em porta
só pedia de comer,
mesmo que só pão.
corri a aldeia inteira,
queria saber ao vivo
e cara a cara,
como é que as pessoas
são.
na casa dos ricos.
ao fim dum certo tempo,
aparecia a criada
ou aparecia o cão.
- que quer você? - perguntava ela.
- queria de comer.
e a resposta era:
- o patrão não está.
ou
-deixe-se estar. Vou perguntar.
passados uns momentos,
se entreabria a porta
e lá vinha um naco de broa,
um saquito de batatas
ou uma porção de arroz.
metia ao bornal.
- obrigado. seja pelas alminhas da casa,
as que já lá estão!...respondia eu, agradecido.
- vá com Deus!- retorquia.
a seguir, vinha a casa dum remediado.
com jardim e carro à porta.
só podia ser.
- que quer você? perguntava o miúdo.
- de comer. - respondia.
- vou chamar a mãe.
momentos depois, aparecia à porta,
ao cimo da escada,
senhoril, sapato de tacão alto,
mas de avental.
fitava-me com certa distância
e algumas dúvidas espelhadas na cara.
olhava-me de cima abaixo.
e franzindo o sobrolho,
- a uma hora destas?...
vá-se embora. ainda tem muito bom corpo para
trabalhar!...
- muito obrigado, senhora.
Deus lhe pague!...respondia eu agradecido.
toda eriçada.
- e olha para ele. o cínico. ainda me faz ameaças!...
a seguir, vinha a casa dum pobre.
afastada do caminho.
sem sebe ou jardim.
nada à volta.
as paredes enegrecidas dos anos.
com falta de tinta.
as portas abertas.
logo aparecia o da casa.
semblante sereno e acolhedor.
- quem procura?
na ideia dele, outra coisa não podia ser.
- só queria de comer.
- comer? perguntava admirado.
- sim.
- com certeza.
vamos agora mesmo, comer o caldo.
venha daí e come com nós!...do que houver.
Mafra, 4 de Abril de 2015
21h56m
sábado aleluia...
Joaquim Luís Mendes Gomes
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