sábado, 4 de abril de 2015

histórias prováveis...

histórias prováveis...



simulei-me pedinte
não andrajoso.
fui de porta em porta

só pedia de comer,
mesmo que só pão.

corri a aldeia inteira,

queria saber ao vivo
e cara a cara,
como é que as pessoas
são.

na casa dos ricos.
ao fim dum certo tempo,
aparecia a criada
ou aparecia o cão.

- que quer você? - perguntava ela.
- queria de comer.

e a resposta era:

- o patrão não está.
ou
-deixe-se estar. Vou perguntar.

passados uns momentos,
se entreabria a porta
e lá vinha um naco de broa,
um saquito de batatas
ou uma porção de arroz.
metia ao bornal.

- obrigado. seja pelas alminhas da casa,
as que já lá estão!...respondia eu, agradecido.
- vá com Deus!- retorquia.

a seguir, vinha a casa dum remediado.
com jardim e carro à porta.
só podia ser.

- que quer você? perguntava o miúdo.

- de comer. - respondia.
- vou chamar a mãe.

momentos depois, aparecia  à porta,
ao cimo da escada,
senhoril, sapato de tacão alto,
mas de avental.

fitava-me com certa distância
e algumas dúvidas espelhadas na cara.

olhava-me de cima abaixo.
e franzindo o sobrolho,

- a uma hora destas?...
 vá-se embora. ainda tem muito bom corpo para
trabalhar!...

- muito obrigado, senhora.
Deus lhe pague!...respondia eu agradecido.

toda eriçada.

- e olha para ele. o cínico. ainda me faz ameaças!...

a seguir, vinha a casa dum pobre.
afastada do caminho.
sem sebe ou jardim.
nada à volta.
as paredes enegrecidas dos anos.
com falta de tinta.

as portas abertas.

logo aparecia o da casa.
semblante sereno e acolhedor.

- quem procura?
na ideia dele, outra coisa não podia ser.

- só queria de comer.

- comer? perguntava admirado.

- sim.

- com certeza.
vamos agora  mesmo, comer o caldo.
venha daí e come com nós!...do que houver.

Mafra, 4 de Abril de 2015
21h56m

sábado aleluia...

Joaquim Luís Mendes Gomes



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