sexta-feira, 22 de junho de 2018

Festa das ventanias


Festa das ventanias

Vinha de tempos imemoriais.
Todos os anos, pelo São Pedro,
Arribavam de todo o mundo
Os ventos intemporais.
Como migrações.

Era a peregrinação universal das intempéries, com seus matizes.

Do oriente, os mais ferozes.
Habituados às asperezas asiáticas,
Desde o Evereste aos Himalaias.
O que valia era a distância.

Quando ali chegavam, vinham brandos. Ninguém suponha o que eles seriam na sua origem.

Chegavam à praça rodopiando em arcos leves. Descreviam formas vistosas de iluminuras.
Como serão as ninfas orientais.

Contrastavam com os do ocidente ameríndio, enigmático e imprevisível, das florestas amazónicas, com volutas voluptuosas das planícies verdes.

Vinham arfantes da travessia longa do oceano.
Se instalavam pacíficos pelas bancadas como se turistas.

Os do norte vinham trementes nas suas vestes longas. Insuficientes. Tiniam de frio. Aspiravam calor.
Para recuperar quem eram. O seu vigor.

Os do sul cheiravam a África. Eram agrestes como as vertentes do Killinmanjaro.
Exalavam perfumes inebriantes do equador.
Insinuantes como as dunas desérticas que atravessaram.

Só depois da primeira noite cada vento, já recomposto, mostrava quem era.

A seguir, era a festa da convivência.
Durava um mês.
Onde a fraternidade universal era a rainha…

Mafra, 23 de Junho de 2018
7h14m
Jlmg




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