Festa das ventanias
Vinha de tempos imemoriais.
Todos os anos, pelo São Pedro,
Arribavam de todo o mundo
Os ventos intemporais.
Como migrações.
Como migrações.
Era a peregrinação universal das
intempéries, com seus matizes.
Do oriente, os mais ferozes.
Habituados às asperezas asiáticas,
Desde o Evereste aos Himalaias.
O que valia era a distância.
Quando ali chegavam, vinham brandos.
Ninguém suponha o que eles seriam na sua origem.
Chegavam à praça rodopiando em arcos
leves. Descreviam formas vistosas de iluminuras.
Como serão as ninfas orientais.
Contrastavam com os do ocidente
ameríndio, enigmático e imprevisível, das florestas amazónicas, com volutas voluptuosas das planícies
verdes.
Vinham arfantes da travessia longa
do oceano.
Se instalavam pacíficos pelas
bancadas como se turistas.
Os do norte vinham trementes nas suas
vestes longas. Insuficientes. Tiniam de frio. Aspiravam calor.
Para recuperar quem eram. O seu
vigor.
Os do sul cheiravam a África. Eram agrestes
como as vertentes do Killinmanjaro.
Exalavam perfumes inebriantes do
equador.
Insinuantes como as dunas desérticas
que atravessaram.
Só depois da primeira noite cada
vento, já recomposto, mostrava quem era.
A seguir, era a festa da convivência.
Durava um mês.
Onde a fraternidade universal era a
rainha…
Mafra, 23 de Junho de 2018
7h14m
Jlmg
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