segunda-feira, 25 de abril de 2016

carroça velha...

Derradeira jornada da
Carroça velha
Havia na aldeia um homem de muita idade e muito rico. Vivia numa casa grande, com um criado antigo. Tinha muitos cavalos e muitas terras. E tinha também duas carroças. Uma nova, a brilhar e outra parada lá num canto, muito velha. Já não andava nela havia muito tempo.
Fora a carroça dos seus tempos de criança.
Um dia, de manhã apeteceu-lhe dar um passeio na carroça da sua infância. Chamou o criado e mandou-o aprontar a carroça velha. Queria ir nela até à montanha.
- Ó meu senhor! Ela já não aguenta um quilómetro sequer!... Vai deixá-lo ficar mal.
- Não quero saber. Apresta-ma como deve ser e deixa o resto comigo.
- Está bem, meu senhor! O senhor é quem manda.
O criado arranjou-a como pôde. Trouxe as selas e correias. Pegou em duas parelhas de cavalos e aplicou-os aos varais da carroça.
Quando estava tudo em ordem, foi ter com o patrão.
- A carroça está pronta, meu senhor, como mandou.
O patrão, de bigode retorcido, todo janota, com seu fato de cavaleiro e botins altos a reluzir, desceu as escadas do palacete e dirigiu-se à velha carroça.
Os cavalos, contentes por irem sair, vaidosos com as crinas pretas a baloiçar, já estavam bem aplicados, nos seus varais, relinchavam impacientes por partir. Pareciam comungar da alegria do seu dono.
O patrão, ainda muito ágil e elegante, alçou o pé sobre o patim já gasto, em chapa grossa, muito poída e sentou-se impertigado no tamborete de madeira.
Puxou as rédeas e desfechou duas chicotadas brandas sobre o lombo dos cavalos. Era a ordem para avançar.
E, trote!... trote!...trote!...trote!... serpenteando à fresca por caminhos e valados em terra nua, lá foi sózinho o velho fidalgo, montanha acima, muito ufano por estar a reviver velhos tempos de criança.
Embevecido, olhava tudo em redor. Trote!...Trote!...E os cavalos também.
O vale verde e o riacho já ficavam lá ao fundo.
De repente, um grande estalo. Parecia um tiro de caçadeira. Mesmo ali ao pé. O fidalgo olhou para todo o lado…
Todo escaqueirado!...
Os cavalos assustados, fugiram desalmados, encosta fora.
- Bem dizia o meu criado…
Mafra, 25 de Abril de 2015
16h36m
Joaquim Luís Mendes Gomes

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