segunda-feira, 13 de agosto de 2018

Portão da Poesia...

Portão da poesia...
É de bronze o portão da poesia.
Está fechado. 
Um letreiro: 
- Quem procura já cá não mora.
Fiquei triste. 
Habituado a vê-la, mal batia à porta.
- Onde parará agora?
Faz tanta falta.
Atónito e aturdido,
Volto a casa.
Pela madrugada, liguei o rádio.
Antena 2.
Estava a dar um programa de " música e poesia".
A voz doirada de Vítor Nobre ia dizer um poema.
Depois duma introdução musical bem conhecida.
De Joaquim Luís Mendes Gomes 
" O comboio amarelo de Cascais"...
Senti um baque.
De olhos marejados fiquei a ouvi-lo e recordei como tudo se passou:
"Ano dois mil.
Um dia à tarde, quando fazia tempo, esperando alguém,
não sei que foi,
senti vontade de escrever poesia.
Olhei. Um comboio estava parado na estação de Algés. Esperando partir.
Conhecia-o tão bem...
Num girar sem fim, só o utilizava entre o Cais do Sodré e Algés.
Tinha comigo o caderno onde apontava as minhas prosas para os jornais.
Soltei o bico à caneta e deixei-o correr à solta.
Foi por onde quis. Foi só segui-lo.
Como ele sabia tão bem de tudo sobre aquele comboio amarelo que ia e vinha.
No fim, comecei a ler. 
As lágrimas explodiram nos meus olhos... 
"O comboio amarelo de Cascais" o meu primeiro poema. 
Nunca mais parei."
Mafra, 13 de Agosto de 2018
20h46m
Jlmg

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