Viagem mental
Tomei o comboio regional na estação de santa Apolónia. Vai até ao Entroncamento. Dá para saborear o Tejo, empolgante, e as lezírias túrigidas que vivem dele. Ver pessoas que eu nunca vi nem voltarei a ver. Sentadas ou que vão entrando. Estações de branco puro, debruadas de azul. Imitando o céu. Vila Franca de Xira e seu jardim ao lado. Verde. E sombreado. Entram campinos de barrete verde. Calças coladas dentro dos botins altos, luzindo ao sol e suas esporas. Mulheres rosadas, de saias largas, trazem gigas e se vão para a feira. Em Santarém. Gente pacata. De olhos piscos. Sob os bonés ou os lenços de cores. Por aqui vivem seus dias, lidando a vida, como eu a minha.
-olha. Ali vai um padre. Tem colarinho branco e sotaina preta. Vai dizer a Missa no povoado. Ali corre um táxi preto, Com uma faixa verde para distinguir. É um chevrolet.
Mais atrás, e arrastada, uma carroça, com um só cavalo. Muito bem estimado. Seu dono ao cimo, que bem o tange.
Ali vem o revisor. Na sua veste e garbo. Dá-lhe respeito. O faz contente.
Vai picando cada bilhete. E diz obrigado. Com uma linda vénia.
agora fui eu. Tive desconto, pela minha idade. nem foi preciso provar. Olhou para mim...
E pelas encostas brandas, escorrem casais com suas hortas.
Há mulheres de avental, buscando as couves.
Vêem-se galinhas de cristas vermelhas e ladram os cães, quando o comoboio apita.
É quase meio-dia. Senti meu estômago. Não me perdoa. Um dependente.
Vou satisfazê-lo no mesmo restaurante ao pé da Estação no Entroncamento.
Sempre o costume. Umas enguias fresquinhas de cebolada. E aquele tinto do Ribatejo. tem cá um pique.
Já se vê um entrelaçado de muitas linhas de ferro. è o sinal.
Descansam as carruagens em fila. Pelos alpendres se agitam as pessoas que vão viajar, para o norte.
O comboio abranda. Foi um instantinho. Deixo esvaziar a minha carruagem. Depois eu desço...
Como me sinto bem. Sentindo o campo e a sua paz. Tão natural...
Berlim, 2 de Janeiro de 2016
17h43m
é noite...
Joaquim Luís Mendes Gomes
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