sábado, 3 de novembro de 2018

Tempo dos ardinas




Tempo dos ardinas

No tempo dos ardinas pelas ruas de Lisboa.
Um saco cheio de jornais.
Na cabeça um boné surrado, à banda.
Olhos piscos e uma pisca na boca,
À janela.

Primeiro os fregueses certos, nem vinham à janela.
Com uma mão certeira, o jornal voava para a varanda.

Os pregões na voz cavernosa do cigarro.
-Olha o Século!
-Olha o Notícias!
-Olha O Diabo!
- A Capital!...
Dava a volta ao bairro, até acabar.
Jardim da Parada.
Jardim da Estrela.
Pelas manhãs.

Iam cheios os eléctricos.
O 28. Dos Prazeres à Baixa e ao Castelo,
Num vai-e-vem sem fim.
Inverno e Verão.

Era assim, a Lisboa em paz.
Bem conheci.
Lisboa das floristas e das castanhas,
À venda pelos passeios.

Lisboa alegre dos jardins
E das varandas abertas sobre o Tejo.
Almada longe.
O Cristo-Rei.

Havia fado pelas vielas.
E badaladas nas igrejas espalhadas pelas colinas.
Voavam felizes em liberdade as pombas
Pelas praças.
Bebiam água fresca nos chafarizes.

E os sinaleiros empertigados em tamboretes,
marcavam ritmo ao trânsito sem pistola. Só apitos.
Tudo corria bem na velha Lisboa alegre dos ardinas...

ouvindo Carlos Paredes - Divertimento
Berlim, 3 de Novembro de 2018
10h6m
Jlmg

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