quarta-feira, 23 de janeiro de 2019

Fugacidade da vida

No princípio é o infinito. Dá para tudo, até para a ociosidade.
Joga-se ao faz de conta. E, no fim, dá sempre certo.
É alto e pleno o monte das ilusões.

Fazemos tudo para ganhar e ser melhor que todos.
Sofremos com a derrota.
A vingança é uma companheira oculta e disfarçada.

Havemos de ganhar. Dê para o que der.

Sobram forças na algibeira. As pernas correm como gamos.
Os braços são hercúleos.

Adoramos uma refeição farta.
Bebemos até cair ao chão.
Insaciável nosso apetite.
Rebuscamos sabores.
Caimos na gulodice dos rebuçados.
Um para cada momento.

A pouco e pouco, tudo desvanece.
A memória vai esquecendo cada vez mais.
A vista enfraquece.
Vêm os óculos e as diopterias.
Ficam opacos os ouvidos.

Vestir as calças de pé já não é fácil, sem um encosto.
Pede-se que nos apertem os cordões dos sapatos.
Os pés ficam longínquos.

Os cabelos os levou o vento.
Impiedosamente.
Já não temos o desvelo de nossa mãe.

Cá por dentro se sente o fim à espreita.
E, rico ou pobre, é esta a nossa condição.
Ninguém lhe escapa.

Bar do Edecka em Berlim, 23 de Janeiro de 2019
14h58m
Jlmg

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