sexta-feira, 19 de junho de 2015

A Sexta-Feira

A senhora Sexta-Feira

Vivia em Ganjola,
arredores de Catió.
Era a doce companheira
do senhor Brandão.

Um desterrado de Arouca
a cumprir pena na Guiné.

Fez-se comerciante.
Vendia de tudo aos nativos,
por todo o sul desde Bedanda a Cufar.

Faziam bicha em corropio
as mulheres negras
açafates à cabeça,
e filhinhos atrás das costas.

Traziam ovos,
traziam galinhas
de cristas rubras
e levavam arroz e sal
para suas tabancas.

Sua casa era um palacete,
à beira-rio.
Onde abundavam os crocodilos,
mas havia peixe a dar com pau.

Ali fui parar um mês com meu pelotão.
Como num quartel.

Ali dei com o célebre brandão,
sempre rodeado de muitas crianças,
que lhe ventilavam o ar,
na sua esteira suspensa.

E havia uma senhora negra,
cabelo grisalho
um rosto belo,
cheio de rugas
e uns olhos brilhantes,
um sorriso divino e puro.

Era a Sexta-Feira.
Cozinhava tão bem!...

Que será feito dela?

Berlin, 19 de Junho de 2015
8h47m
Joaquim Luís Mendes Gomes

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