terça-feira, 16 de junho de 2015

as persianas

As persianas

Uma a uma,
vão descendo as persianas,
por onde nos entra o sol da vida.

Encanecem os cabelos,
de adelgaçados
e, folhas secas,
um a um,
vão caindo ao chão.

Nossas forças fortes,
que entumeciam as pernas e nossos braços
quase apagam,
de enfraquecidas.

Estes ouvidos agudos
que tudo ouviam
vão ficam rombos,
quase cegam.

E estes olhos vivos,
cheios de cor,
largas janelas,
para luz entrar,
tudo pintando,
em quadros lindos
no mundo em branco,
branco de linho,
pouco a pouco,
se vão toldando,
de sombra e névoa.

Estes pés ligeiros eram gazelas soltas,
trepando encostas,
calcorreando vales,
saltitando as pedras,
sempre a sorrir,
o caminho os cansou de longo,
se recusam a andar.

Esta voz sonora,
tão doce e branda,
novinha em folha,
quando nasceu,
era uma flauta,
ora cantando
ora gemendo,
com a luz do sol
e os rigores de inverno,
foi-se rompendo,
quase calou,
tanto clamou
e ninguém a ouviu.

Grande ilusão!

Tudo parecia imenso e eterno
como o mar sem fim...

ouvindo Schumann com Kathia Buniatischvil, ao piano

o sol subiu

Berlin, 17 de Junho de 2015
6h2m
Joaquim Luís Mendes Gomes









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