Uma a uma,
vão descendo as persianas,
por onde nos entra o sol da vida.
Encanecem os cabelos,
de adelgaçados
e, folhas secas,
um a um,
vão caindo ao chão.
Nossas forças fortes,
que entumeciam as pernas e nossos braços
quase apagam,
de enfraquecidas.
Estes ouvidos agudos
que tudo ouviam
vão ficam rombos,
quase cegam.
E estes olhos vivos,
cheios de cor,
largas janelas,
para luz entrar,
tudo pintando,
em quadros lindos
no mundo em branco,
branco de linho,
pouco a pouco,
se vão toldando,
de sombra e névoa.
Estes pés ligeiros eram gazelas soltas,
trepando encostas,
calcorreando vales,
saltitando as pedras,
sempre a sorrir,
o caminho os cansou de longo,
se recusam a andar.
Esta voz sonora,
tão doce e branda,
novinha em folha,
quando nasceu,
era uma flauta,
ora cantando
ora gemendo,
com a luz do sol
e os rigores de inverno,
foi-se rompendo,
quase calou,
tanto clamou
e ninguém a ouviu.
Grande ilusão!
Tudo parecia imenso e eterno
como o mar sem fim...
ouvindo Schumann com Kathia Buniatischvil, ao piano
o sol subiu
Berlin, 17 de Junho de 2015
6h2m
Joaquim Luís Mendes Gomes
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