segunda-feira, 22 de junho de 2015

Devagarinho...

Devagarinho...
Lentamente, devagarinho,
mas cheguem, se espalhem
por toda a parte,
abundantes,
os frutos da igualdade
que nos liga,
de corpo e alma,
seja qual for a cor
da nossa pele
e os hemisférios
desta grande Terra,
onde nasçamos.
É o mesmo o nosso destino.
Batem ao mesmo ritmo
as pancadas do coração.
É rubro o sangue.
Se se golpeia o peito
ou enrubrescem os nossos olhos.
Escorrem no rosto
as mesmas rugas,
fruto da idade
e do sofrimento
que nos perpassa.
O mesmo jeito de sorrir,
quando a alegria escorre,
do mar largo
da nossa alma.
Sentimos todos a mesma saudade
pela ausência de quem mais queremos
quando, de vez, partiu
ou se tarda em chegar.
Não esquecemos nunca
nem o bem nem o mal
que recebemos
na nossa hora de fartura ou de desgraça.
São as mesmas nossas pisadas pelos caminhos,
quer de areia suave,
molhada ou seca,
quer de terra amarga,
cheios de espinho.
As portas das nossas casas
abrem e fecham
para o mesmo lado,
quando toca a campainha
ou batem palmas
se, lá debaixo, chamam
- ó da guarda!
É igual e funda
a alegria do perdão
de quem magoamos,
por maldade ou sem querermos.
Têm o mesmo cumprimento
e a mesma força
os muitos abraços
que nos damos.
De cansados nos deitamos,
quando chega a hora de dormir.
Ficam alegres e radiosos
os nossos olhos
na hora matutina
do nascer do dia,
com chuva ou sol...
Então, porque não nos havemos de abraçar,
companheiros amigos e amantes
é a mesma nossa viagem
e igual nosso destino,
Este mundo é uma passagem!...
ouvindo Hélène Grimaud ao piano, tocando Rachmaninov como só ela sabe
nasceu cinzendo e molhado este dia de Verão
Berlin, 23 de Junho de 2015
6h47m
Joaquim Luís Mendes Gomes

Sem comentários:

Enviar um comentário