Em surdina...
Com brandura e pézinhos de lã,
vamos abandonar o barco,
deixêmo-lo seguir,
tomemos nosso destino,
à nossa conta.
Vamos para um lugar distante,
onde não cheguem estes ventos
de desvario louco
e comecemos tudo de novo.
Enterremos bem fundo,
sob as profundezas mais profundas,
estas horas e anos
de desatino,
que avassalaram nossas vidas,
fazendo crer
que assim deveria ser
até ao fim.
Nunca mais poderíamos sonhar,
como quando éramos meninos,
tudo era belo e lindo
e o céu azul,
cheio de sol.
Durou tão pouco tempo.
Depois da escola,
veio a guerra,
foi-se a paz,
apagou a chama da esperança.
Veio a derrota.
O abandono ao desbarato.
Por fim, fomos invadidos
por esta horda de irresponsáveis...
Tudo destruiram.
E até a nós, se não fugíssemos...
Berlin, 25 de Junho de 2015
7h39m
à hora em que o nosso cãozito Mozzi, um companheirão de há dezasseis anos, está agonizando em paz ao pé de quem ele amou...e nós a ele...
Joaquim Luís Mendes Gomes
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