segunda-feira, 29 de janeiro de 2018

As minhas asas

Minhas asas

São aduncas minhas asas.
Têm quilha e têm leme.
Ora planam ora batem a fogo.
Sabem aproveitar melhor que eu
os ventos favoráveis.
Nunca arrostam de frente o vento.
Se enviezam autocomandadas.
Ganham balanço e se libertam vitoriosas das ciladas.

Não as escolhi. Me calharam na sorte do navegar.
Prefiro asas aos remos, coitados, tanto puxam  e pouco avançam.

Têm a forma de leque como de pavão.
São sóbrias. Se contentam com as cores que lhes tocaram.

Não gostam da quietude da borda da praia.

Preferem as vertentes alcantiladas sobre os abismos.
Contemplar do alto como se fossem núvens.
Aferem as distâncias com o rigor milimétrico dum mapa cor de rosa
para que nunca lhes falte a energia necessária.

Com elas eu vivo descansado. São garantia de minha liberdade.

Ouvindo Francis Goya

Berlim, 29 de Janeiro de 2018
19h29m
Jlmg

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