quarta-feira, 27 de maio de 2015

meus papeis velhos

Os meus papéis velhos

Os meus papéis velhos
que guardo religiosamente,
são pégadas que deixei pelo meu caminho.

Nem o tempo
nem a chuva
nem o vento as apagou.

De vez em quando
Ponho-me a lê-los ao acaso.
Cada um com sua história.

Há um deles,
em papel almaço,
amarelecido,
dobradinho em quatro.

Me lembro como se fosse ontem.

E de quem mo trouxe.
Pela tarde quente
dum verão há muito.

No primeiro dia das minhas férias grandes.

Da minha companheira
da comunhão solene.
De família rica...
Amor impossível.
Assim eu cria.
Eu era pobre...

Com ela sonhava
no seminário.
A imaginava no seu dia a dia.
A caminho do externato.

Carinha redonda.
cabeleira corrida,
A descer pelos ombros.
Os olhos vivos
mas muito doces.
Que belo sorriso.

Nunca mais falamos.
Só por papelinhos.
Era a Emília quem mos trazia.

Contávamos os dias
que faltavam para as férias.
Como custavam a passar...

Até à hora dum papelinho.

- Como vão os estudos?
Estás a gostar?...
- Quero ser médica...como meu pai.
E tu, sempre queres ser padre?
Esperarei por ti...
A escolha é tua.

Assim dizia aquele papelinho amarelecido,
letrinhas redondas,
já desmaiadas,
em papel almaço...

Berlin, 27 de Maio de 2015
22h47m
Joaquim Luís Mendes Gomes




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