Mente deserta
Árida e deserta está a minha mente.
Impiedoso bateu-lhe o sol
O dia todo.
Não soprou o vento.
Não houve uma sombra
Minha mente está seca como a areia.
Fecho os olhos.
Me ligo à fonte.
E em torrente jorrou água.
Pura e fresca.
Mato a sede.
Refresco o corpo.
Molho os cabelos
E uma brisa ténue
Me acaricia o rosto.
Me lanço ao caminho.
Despertou o ânimo.
Volto à rua
A fervilhar de vida.
Se apressam os carros.
Querem chegar à hora.
Só o sinal vermelho,
abrindo as passadeiras
Lhes tolhem a correria.
Pelos passeios,
Há passos apressados.
Ainda vão a comer a bucha…
Vão para o autocarro.
Chega sempre à hora.
Ainda tão tenrinhos,
Pela mão dos pais,
De mochilita às costas,
Ainda vão dormindo,
Seguem para a escola.
Há os camiões fechados.
Carregam toda a logística.
Basta um toque eléctrico
Escancaram-se-lhes as portadas.
Baixa o elevador traseiro.
E as mercadorias,
Bem empacotadas,
Lá se vão ufanas,
Levam as iguarias,
Das mais variadas
Para as prateleiras,
Já estavam desertas.
Até os corvos negros,
Alheios ao perigo,
Descem à estrada,
Debicam nos passeios
Tudo que lhes interessa
E já não valia nada.
Sobem aos terraços livres
Onde montaram os ninhos,
Têm seus filhinhos com fome.
Ainda não sabem voar.
Berlin, 1 de Junho de 2015
6h51m
O sol ainda não rasgou a cortina
cinzenta
Joaquim Luís Mendes Gomes
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