Plantar couves...
Não é simples.
Tanta vez eu vi,
era pequeno,
o jornaleiro Anastácio,
contratado ao dia,
com direito a merenda,
aí pelas dez horas,
para plantar as couves do ano.
Só com uma enxada.
Gume de aço,
bem afiada.
Rapava o chão da horta.
Tantas ervas bravas.
Enchiam cestos.
Para o curral.
Começava a cavá-lo duma ponta à outra.
Cada cavadela ponha à mostra
o húmus negro da terra prenhe.
Que ficava ao sol,
em lume brando.
Chegado ao fim,
alisava tudo
e filtrava a terra
das raízes mortas.
Davam outro cesto.
E, lá ao fundo,
muito bem preservado,
uma rima de estrume,
já quase seco,
que se tinha juntado.
Depois, era espalhá-lo,
tudo cobrindo.
Já não cheirava mal.
A natureza o tinha tratado.
E chegava a hora de abrir a rota.
Desde a estrema norte.
Cavando a fundo,
uma enxada e meia.
Dum açafate verde,
regado fresco, à sombra,
tirava uma dúzia de couves,
plantinhas tenras,
com raiz à mostra
e, uma a uma,
num gesto terno,
as encostava na cova.
A seguir, como quem as põe a dormir,
cobria-as da terra
que saira da rota.
Com a enxada,
em pancadinhas doces,
alisava a terra e passava a outra...
No fim, dava gosto ver a horta,
tão bem adornada,
com vida nova.
O resto era vê-las medrar,
estender-se ao ar,
com tronco fortes
e ramadas verdes.
Eram as couves
para o caldo do dia a dia.
O vizinho Anastácio,
estou a vê-lo,
que Deus levou...
ouvindo concerto nº 1 de piano de Chopin
Jlmg
Joaquim Luís Mendes Gomes
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