terça-feira, 7 de junho de 2016

o pescador...

O PESCADOR, AVESSO E SOLITÁRIO

Em cima daquelas pedras,
Cravadas lá ao fundo,
Em cima das salsas ondas,
Feras e teimosas
Do bravio mar profundo,
Está um homem, rico e solitário,
Avesso à loucura cega
Que domina todo o mundo:

O chapéu dele é o azul, imenso,
Das alturas do firmamento;
O brando vento é o mensageiro,
Sempre pronto,
Dos milhões de sonhos
Que lhe vão no pensamento;
A solidão daquele mar, ignoto,
É a doce companheira
Que o consola, meiga,
A toda a hora;
Apaga a sede delirante,
Com a frescura divinal
Do perfume inebriante
Da infinita liberdade;
Colhe o pão e o vinho,
Ao sabor de cada instante,
Na seara e no vinhedo,
Madura e sempre verde,
Do oceano ondulante…
Conta o tempo e as horas,
A vida toda,
Em veloz corrida,
Aos seus pés,
Com o vai-vém, sempre certo,
Ao ritmo das marés;
E, no final de cada dia,
Aquele pescador,
Simples e solitário,
Avesso e revoltado
Com o mundo, cego e maluco, atrás de si,
Adormece embalado pelo canto das sereias
Que bailam, enamoradas, pela cortina de luar
Que enche, de divina formosura,
A rosácea infinita do firmamento estrelado!…
Aquele pescador,
Se não és tu…
Sou eu!…
Joaquim Luís M. Mendes Gomes

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