sábado, 25 de abril de 2020

O vinte e cinco de Abril

Sobre o Vinte e Cinco de Abril
Receio bem que as gerações nascidas depois do vinte e cinco de Abril nunca cheguem a dissipar as névoas, tendenciosas que toldam, intencionalmente, esse acontecimento.
O Cavalo de Troia que o trouxe foi aquele minúsculo movimento de capitães, de carreira, por uma causa muito particular e interesseira, a de se libertarem da sina de se verem a arriscar a vida em comissões sucessivas a caminho de África.
Eu residia com minha família,de três filhos, em Almada e trabalhava em Lisboa.
Assistimos a tudo na cratera do vulcão.
Depois de regressar da Guiné e de ter tirado a ferros, o curso de Direito.
Rápidamente o movimento dos capitães foi subalternizado pelo movimento marxista internacional.
Viu nele a oportunidade de cravar aqui em Portugal uma outra versão da experiência cubana.
Vi chegar a Santa Apolónia, dum dia para outro, o líder Álvaro Cunhal.
Vindo de Moscovo.
Mário Soares. De Londres ou Paris.
Cada qual com interesses políticos antagónicos.
Cunhal, pró-soviético, colectivista;
Soares, pró Ocidente, capitalista. Do livre mercado e da democracia.
Extremaram-se as posições. Em movimentos contrários.
Um verdadeiro tsunami político-social.
Aceleradamente se desencadearam saneamentos das cátedras e das altas patentes das estruturas militares.
Uma onda de ocupações selvagens, das empresas mais poderosas; a reforma agrária selvagem irrompeu devastadora.
Os canais da TV e da Rádio foram ocupados.
Anunciou-se a perseguição religiosa.
As universidades pararam. Desertas de docentes capazes.
O MRPP insolente, escavacou num instante uma série dessas faculdades.
Quem estava no fim dos seus cursos superiores ficou perdido, sem saber o que fazer.
O País ficou partido ao meio: A fronteira, guardada a fogo, era Rio Maior.
Estancaram os mantimentos para Lisboa.
Havia que secar as praças e mercados. Vi o da Ribeira sem nada nas bancas.
Houve famílias com miúdos pequenos, que fugiram para a província.
Eu fui um deles.
Tentei emigrar para o Canadá e os serviços da política não me deixaram.
Foi um período muito turbulento que se implantou.
Foi o Vinte e Cinco de Novembro, com Ramalho Eanes e um grupo patriota de militares conseguiu clarear e inverter a supremacia comunista.
A partir da sua vitória, muito lentamente o País foi voltando ao normal.
Outro facto político de tremenda importância foi a chamada descolonização.
Depois de 13 anos de sacrifício não houve família que não visse partir para a guerra de África algum dos filhos.
Quantos por lá ficaram para sempre.
E é de ressaltar que a guerra do ultramar estava práticamente sobre controle.
Em Angola, Moçambique e na Guiné.
Havia prosperidade e progresso crescentes. Reais. Sobretudo nas duas primeiras.
O Governo estava a estudar instituir uma União ou Confederação das províncias ultramarinas com a metrópole.
As potencialidades desta fusão de interesses, respeitadores dos interesses nacionais, era enormes.
Mas, a gula dos países europeus ocidentais ficou embriagada com a hipótese de entrarem gratuitamente em África, para lhe sugarem as riquezas.
Rápidamente, o poder políticos passou para as mãos glutonas desse países oportunistas.
As populações "brancas" residentes e que já viviam bem, viram-se abandonadas pelas nosssas forças militares.
E, depois, foi a debandada. Aquele movimento escabroso de aviões em cortejo a despejarem retornados com seus caixotes. O cais, desde a Ribeira até lá longe, ficaram a rebentar com tanto caixote.
Os retornados que trabalhavam na banca e nas funções públicas entraram, e bem, para os quadros. Entupindo por dezenas de anos as carreiras de quem cá estava.
Desenvolveu-se um certo confronto e hostilidade entre ambas as partes.
De realçar também que o Governo nacional estava a desenvolver uma reforma administrativa profunda.
A legislação fundamental, Constituição incluída, foram revistas em pontos muito importantes. Implantando uma igualdade de cidadania real.
Entre homens e mulheres. Em todos os sentidos.
Tudo ficou paralizado e sujeito ao vendaval das facções políticas.
Esta visão, tudo isto, foi ocultado e desvirtuado às novas gerações.
Creio bem que quem hoje tem para baixo de cinquenta anos já não vai ter tempo de dissipar as núvens de desinformação que lhes meteram na cabeça...
Mafra, 25 de Abril de 2020
10h23m
Jlmg

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