O regato da serra
Corre um regato ao fundo da aldeia.
Vem lá da serra aos saltos,
Rasgando o caminho,
Parece um puto tratante,
A caminho da escola.
Assobia e canta ao ritmo das pedras,
Inunda as margens humildes e secas
Que lhe pedem esmola.
Rouba areia e semeia açudes e ilhas,
Onde crescem as canas
Com ninhos de pássaros,
Em frente de praias.
De longe a longe, se torna lagoa
E puxa a mó de moinhos,
Apesar de ser pedra,
Transformando o milho em farinha.
É um amigo atento,
Não pára quieto,
Em visita constante,
Através das aldeias.
Dizem que vai a caminho do mar.
E, muito lá à frente,
É tal o caudal,
Há barcos a remos e vela,
Levando fregueses,
Dum lado para o outro.
Vão para as romarias e feiras.
Rezam as lendas que antanho,
Até as sereias e fadas,
Vinham da serra de noite
E assombravam as gentes
Com cantos e loas,
Pareciam de anjos...
Berlim, 1 de Setembro de 2018
10h49m
Jlmg
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