quinta-feira, 5 de janeiro de 2017

Histórias com cor...

Histórias com cor...

Nos primeiros dias da minha pré-reforma, há uns, 18 anos, saboreva eu um passeio livre por Lisboa.

Ali, no Cais do Sodré onde se apanha o barco para Cacilhas e o comboio para Cascais, há um pequeno bar.
Fui lá tomar uma bica.
Havia gargalhadas.
A cantadadeira de rua habitual em certos pontos de Lisboa, a cantar acompanhada com seus ferrinhos, estava ali. Sempre a sorrir e bem disposta.
Apesar de cega, corre tudo sem qualquer ajuda.

- Então não tem pena de não ver?- perguntou-lhe alguém.
- Eu não. Vejo tudo à minha maneira...Prefiro assim que não ter uma perna.

Ouvi-a eu. Nunca mais esqueci.

Ontem à noite, na RTP internacional, ali estava ela, mais madura, mas sempre a mesma. Num programa público.

Vi-a e reconheci-a logo.

Foi aí que ouvi a sua história linda. Única.
Cegou aos quatro anos. Filha duma família pobre com 23 filhos.
Algures no Porto.
Criou-se em Lisboa graças a uma ajuda caridosa, e aos 18 anos, passou a viver sózinha.
Vendendo cautelas de lotaria e depois, cantando.

Alguém estrangeiro que a ouviu cantar reconheceu o timbre único da sua voz e consegui-lhe a gravação dum disco.
Era um maestro de Viena de Áustria...
Vieram concertos por todo o mundo.
Nos intervalos, volta aos mesmos sítios e mesmo ofício.
Gostei de vê-la.


Berlim, 5 de Janeiro de 2017
12h13m
Jlmg

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