sábado, 21 de março de 2020

Tempo cinzento e molhado

Tempo cinzento e molhado
Estou na cadeia. Tenho fome de sol.
Só me dão tempo cinzento e molhado.
Não tenho vidraças.
Só frestas e nesgas, mal passam os raios.
Me refugio na mente saudosa. Quando me banhava livre na corrente do rio.
Sentindo a frescura e me secava ao sol.
Quem me dera voltar ao cume do monte e ver o sol a nascer.
Vê-lo subir lento e carente.
Regando o mundo sem nada negar.
Reverdesciam os campos. A manta dos montes.
Vinham rebanhos.
Zumbiam as urzes queimadas de sol.
E, nos vales ao fundo, ruminavam as vacas da erva verdinha. Sabendo a leite e a manteiga com sal.
Os dias passavam na lentidão do silêncio.
Os rebanhos recolhiam a casa, fartos da mesa. Carentes de sono.
Das ermidas branquinhas caíam lufadas de bênçãos.
Havia harmonia e paz nas aldeias.
Era o tempo sem guerras.
A vida corria ao tom do amor.
Ouvindo Bach: Konzert d-Moll BWV 1052 für Orgel ∙ hr-Sinfonieorchester ∙ Iveta Apkalna ∙ Riccardo Minasi
Mafra, 20 de Março de 2020
11h29m
Jlmg

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