O calhamaço…
Já faz um calhamaço o livro da minha
vida.
Cada dia é uma folha que eu rabisco.
Encetei há pouco o quarto capítulo.
O da infância tem caligrafia pura em
traço fino.
Revela cores e tons de sol nascente.
Se desfaz em luz.
Cheira a campo e mar.
Seu perfume é das flores e maresia.
Nele se cinzelou a minha alma.
Seu código foi a fraternidade e a boa
vizinhança.
Depois veio o da escola. Com tantos
vícios.
Modelação insensível, à sombra de
intenções malsãs.
Como a da competição e a adoração da
força.
A do quanto mais se tem melhor.
Sem importar o como.
A seguir o da tropa. Com suas paradas
de obediência à força.
Onde o gatilho era o valor supremo.
Depois veio o da vida. Mar tumultuoso.
Com tantos ventos.
O naufrágio é a ameaça constante.
Agora, viver é fazer de conta e reler
atrás…
Café Castelão, em Mafra, 29 de Agosto
de 2017
Vê-se gente com guarda-chuva aberto…
Jlmg
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