segunda-feira, 23 de setembro de 2019

Rude e disforme


Rude e disforme

Tropeço num seixo cravado no chão.
É rude e disforme.
O tomo nas mãos.
Fixo-me nele.
Perscruto-lhe o seio.

E um rosto, sereno e expressivo, me assoma aos olhos.

Tomo o cinzel.
Em pancadas firmes, seguras, descarno-lhe os pedaços a mais.
Desenho-lhe a testa.
Esboço-lhe um rosto, impessoal, primeiro.
Delineio-lhe as faces.
Defino-lhe, da boca, os lábios perfeitos.
Retiro do fundo dois olhos ovais.
Ressalto-lhe as pálpebras.
Sopro-lhe a alma.

Ao último toque, parece-me ouvir, com emoção e doçura,
um - muito obrigado-
Parece tem vida.
Saída de mim.
Desatei a chorar...

Berlim, 23 de Setembro de 2019
21h3m
JLmg



Sem comentários:

Enviar um comentário